
O espaço da Central Tejo, pertencente ao MAAT, abriu-se à robótica. Por entre as maquinarias da arqueologia industrial da antiga central elétrica a carvão, podemos encontrar os mais variados tipos de robots. Com a exposição Hello Robot: Design Between Human and Machine, somos desafiados a descobrir o estado da arte desta tecnologia. Mas, também, a refletir sobre os seus impactos sociais e culturais. Este evento convida-nos a descobrir projetos artísticos e máquinas com que já interagimos no nosso dia a dia. Recorda-nos que o futuro sonhado pela Ficção Científica já é o novo normal dos dias de hoje.
Um Museu na Interseção da Arte e Tecnologia

Quando foi criado, o MAAT assumiu a posição expressa de se tornar um espaço de reflexão na interseção da arte e tecnologia. Uma proposta diferente no mundo cultural português. Cá, as interseções entre culturas eruditas e tecnológicas têm o seu quê de anátema. A reflexão sobre o impacto da tecnologia na sociedade não vai muito além de discursos superficiais nos media. Parte da programação deste museu foca-se diretamente nestas temáticas, e tem-nos trazido propostas arrojadas.
Com Utopia/Distopia, trouxe ao público português reflexões críticas sobre temáticas contemporâneas, mediadas pela arte digital. Da sociedade de hipervigilância às estéticas dos drones, passando pelos efeitos das tecnologias móveis e ao urbanismo. A estética que se situa na interseção entre culturas visuais e tecnológicas ficou bem patente na exposição O Mundo de Charles e Ray Eames. Nesta, o público pode conhecer artefatos criados pelo casal de designers que se centravam na era da maturação da computação e dos primórdios da sociedade de informação.
Propostas Arrojadas

Talvez a mais contundente das exposições trazidas pelo MAAT tenha sido a Electronic Superhighway. Comissionada pela londrina Whitechapel Gallery, tocava em dois pontos importantes da arte digital. Por um lado, recordava artefatos dos seus primórdios, com desenhos algorítmicos e instalações dos anos 60 e 70. Por outro, pegava no trabalho de artistas contemporâneos que questionam a nossa relação com o digital, e os seus impactos sociais, culturais e económicos.
Claramente, o MAAT pretende ser mais do que um edifício icónico plantado à beira-Tejo. O próprio edifício acaba por ser uma reflexão sobre a relação entre tecnologia e cultura. As suas formas sinuosas e localização convidam à fotografia instagramável e à sucessão de selfies para redes sociais. Parece ter sido criado para desafiar a câmara do telemóvel dos seus visitantes. No entanto, a sua programação cultural é sólida e nada superficial. É um convite permanente à reflexão e desafio estético, atrevendo-se a, por cá, fazer a ponte entre arte e tecnologia. Dois mundos que tradicionalmente são vistos como culturalmente separados. No entanto, as novas gerações de artistas, que cresceram em meios tecnologicamente saturados, estão a alterar isso.
Olá, Robots

Hello Robot: Design Between Human and Machine insere-se perfeitamente nesta vertente. Esta exposição foi comissariada pelo Vitra Design Museum e o Design Museum de Ghent, em colaboração com a ABB. À partida, promete refletir sobre a interseção entre o design e a robótica, focando-se na humanização do robot. No entanto, a diversidade de artefatos e projetos expostos leva mais longe os seus pressupostos. Visitar esta exposição é mergulhar no fascínio pelos robots, nos seus mitos e realidade, na sua evolução, e no ideário contemporâneo de superação dos limites humanos através da tecnologia. A experiência estética está em constante confronto com os conceitos base de uma cultura mediada pela tecnologia. Um museu de arte não é o local onde esperaríamos refletir sobre indústria 4.0, transhumanismo, singularidade, manufatura aditiva ou aplicações económicas de robótica.
Os espaços da exposição Hello Robot foram concebidos para levar o visitante a descobrir os diversos impactos culturais da robótica. A visita pode iniciar-se pela zona dedicada às visões que temos deste campo. Estas são moldadas pela cultura popular da literatura e cinema de ficção científica, desenho animado, anime e brinquedos. É um espaço de nostalgia, entrecortado por alguns projetos artísticos de vanguarda que refletem sobre a estética dos drones. Paradoxalmente, foi onde vi adolescentes entediados a consultar os seus perfis sociais ns telemóveis, enquanto os adultos se entusiasmavam com os artefatos da cultura popular em exposição. É o local onde mechas coexistem com um R2D2, posters do filme Metropolis e brinquedos de lata japoneses em forma de robot dos anos 50.
Presente e Futuro da Robótica

Após a nostalgia, o contato com a indústria. O passo seguinte do percurso expositivo de Hello Robot mostra aplicações de vanguarda da robótica na indústria, intersetada com as artes. Em evidência, o registo do uso de robots de impressão 3D pelo atelier MX3D para construir uma ponte em metal em Amsterdão, ou máquinas que manufaturam protótipos de mobiliário.
Entre as visões de fábricas do futuro, onde braços robóticos imprimem, cortam e assemblam a produção, estavam dois equipamentos de uso industrial. Um robot YuMi da ABB mostrava a sua destreza e coordenação de dois braços para empurrar berlindes. É um feito impressionante de programação e precisão dos atuadores. Ao lado, a frente, um braço mecânico Kuka escrevia um texto. Uma ação com significado para os visitantes, mas não para a máquina. Para o robot, as palavras que desenhava no papel não passam de um conjunto de coordenadas que determina os seus movimentos.
Humanizar a robótica é o tema da zona de exposição seguinte. Nesta conviviam artefatos tecnológicos e projetos artísticos, com uma intenção deliberada de misturar máquinas utilitárias com visões especulativas. Neste espaço, os visitantes deparam-se com robots como o Paro, a foca robótica para cuidados psicológicos geriátricos, o dispositivo de big data e inteligência artificial conectado Alexa, o cão mecânico Aibo da Sony ou os intangíveis bots de software capazes de conversar na internet. Mas também projetos nitidamente artísticos, como uma andróide desmontada ou um berço servido por um braço robótico.
Hello Robot: Nós, os Robots, e Nós

Refletir sobre robótica envolve projetos artísticos. Uma das zonas da exposição Hello Robot está essencialmente dedicada ao trabalho de artistas que analisam e questionam a nossa relação cultural e emocional com objetos inteligentes. A última zona da exposição leva o visitante a conhecer o potencial de superação dos limites humanos através da tecnologia. Moda impressa em 3D, próteses mecânicas, tecnologias estigmérgicas (que mimetizam comportamentos inteligentes encontrados na natureza) e exo-esqueletos compõem o núcleo desta área.
A lógica desta exposição é nítida: levar os visitantes a refletir na humanização do robor. Este já não é uma máquina industrial, mas um auxiliar e companheiro nas vidas comuns. Mesmo que não tenhamos nenhum zingarelho a mexer-se pela casa, é inevitável interagir com robots de software quando estamos a usar serviços digitais. Hello Robot leva-nos a refletir sobre o papel do robot na cultura. Misto de gabinete de curiosidades, com uma enorme diversidade de artefatos representativos e icónicos, com especulação. Visitar este espaço é ser invadido pelo fascínio por estes mecanismos. Mas, também, o conhecer as suas aplicações presentes. E especular sobre o seu papel nas relações humanas, economia e sociedade. Entre a nostalgia da ficção científica e o futurismo acelerado do trans-humanismo, com a realidade da robótica contemporânea.
Hello Robot em Imagens














Hello, Robot está patente no Pavilhão Central do MAAT (Central Tejo) até 22 de abril.
Aceite o nosso convite e leia o artigo Milagre Mecânico na Catedral.
[…] This article was originally published in Bit2Geek, the portuguese portal for advanced trend in science, technology and space: Os Nossos Robots, e Nós. […]