A eterna dicotomia livro físico versus eletrónico, o estilo filho de peixe sabe nadar do filme do filho de David Cronenberg, e a recordação do falecido autor de banda desenhada José Garcez são algumas das leituras culturais da semana. Na tecnologia, destacamos a obra de Nam Jun Paik, o legado de Alan Turing, muitas novidades da DARPA e o novo desporto de passear para localizações geradas por números aleatórios no GPS do telemóvel. Ainda olhamos para a alegria dos cães, e imaginam-se cenários do que teria acontecido se o primeiro teste atómico tivesse falhado. Estes são os destaques, mas há mais leituras a descobrir nas Capturas desta semana.
Ficção Científica e Cultura Pop
Frank Frazetta’s Dracula and Wolfman: Três clássicos.
TLS Series #4: Raízes: Análise ao mais recente, e último, volume da série The Lisbon Studio, que nos mostra trabalhos dos mais conceituados autores de BD portugueses, bem como de novas vozes promissoras.
FINAL CHAPTER of volume 4 of Suehiro Maruo’s epic revenge story “Tomino Jigoku”: Da elegância perturbadora do traço de Maruo.
Classical Gas – 3000 Years of Art: Um tesourinho obscuro. 3000 mil anos de arte clássica (com um toque de Altamira a levar a coisa mais longe, mas essencialmente a ficar nos mais recentes 500 anos), num verdadeiro blast from the past. A música é daqueles sucessos do passado que fizeram grande estrondo na alturas mas, felizmente, ficaram esquecidos. Vale pela experiência, e por ser um tipo de vídeo vernacular cultural de intenções pedagógicas, que se veio a generalizar mais tarde graças à internet.
Science fiction explores the interconnectedness revealed by the coronavirus pandemic: Apetecia-me abanar a cabeça deste articulista até ele perceber, repetindo “a Ficção Científica não é preditiva”. É aquele velho preconceito académico, que só valoriza o género se lhe reconhecer capacidades que o afastem do fétido toque de popular e o aproximem do ar rarefeito da torre de marfim. Algo que os escritores de FC fazem, e muito bem (é uma das condições para se escrever dentro do género), é especular e extrapolar sobre tendências e impactos culturais da tecnologia.
The Girl in the Golden Garter Belt: Marotices pulp.
The Sci-Fi Illustrations of Shusei Nagaoka: Se algumas destas ilustrações vos parecer familiar, é natural. Muitas destas ilustrações foram utilizadas para capas de discos de bandas clássicas de rock sinfónico e progressivo.
Chris Foss, 1973: Ficção científica clássica.
Yo también pensaba que lo mejor para leer eran los libros físicos hasta que me compré un eReader: Mais um que se rende ao lado negro? Bem, nem por isso. Não há contradição entre ebooks e livros físicos. Uma biblioteca pode ter ambos. Pessoalmente, sou inseparável do meu ereader (agora, um Kobo), que uso essencialmente para ficção nova ou clássica, e livros mais técnicos (nestes, há um factor poupança de estantes, porque o livro técnico de hoje estará obsoleto daqui a alguns anos). Mas não deixo de saturar estantes com livros, e sim, aqueles livros que me são mesmo marcantes? Tenhos em digital e físico. Podemos ter o melhor de dois mundos, se não formos fundamentalistas.
Bartered Brides: Coisas marotas dos tempos passados. E, também, um vislumbre da evolução da representação feminina na ficção pulp, que reflete sempre os gostos da época.
Possessor’ Trailer: You’re Not Prepared For Brandon Cronenberg’s Ultra-Violent Sci-Fi Thriller: Ui, pelo trailer, deu para ver que este filho de peixe sabe nadar, e muito bem. A imagética perturbadora, a frieza de cruzamento entre tecnologia e humanidade, o body horror puro entre tangibilidade e virtualidade que tem sido marca de Cronenberg pai, está presente neste filme do filho.
António Bettencourt Viana: A Independência da Lua: O Jorge Candeias encontrou um daqueles livros de FC portuguesa com o qual eu nunca daria. Está, como lhe é habitual, a analisar a obra conto a conto, e o que nos conta do que está a ler desperta a curiosidade.
The Baron -Between Branquinho da Fonseca and Edgar Pêra: Destaque dado à obra recente de Edgar Pêra, entre o fantástico português e o cinema de vanguarda.
William K. Hartmann: Visões de outros mundos.
The Sexist Legacy in Star Trek’s Progressive Universe: Uma intrigante análise de um dos paradoxos de Star Trek. Sempre foi uma das mais progressivas séries de televisão, entre as temáticas que abordava, atrever-se à diversidade étnica, ou por dar destaque a personagens femininas. Mas nem sempre da melhor forma, só muito recentemente em completo pé de igualdade com as masculinas. Aliás, se se atreverem a descobrir a TOS (The Original Series), vão ver que para além do Kirk-fu, Takei a segurar em cães semi-adormecidos com um corno postiço para fingir que são animais extraterrestres, temos a diferença de uniforme entre tripulantes. Fato completo para os homens, mini-saia para as mulheres. Nada como viajar pelo espaço em trajes leves. Ou, como observa de forma ácida uma das atrizes, trajes para arregalar os olhos aos fãs.
Uncredited 1965 cover art to ‘We, the Venusians’ by John Rackham: Leve toque shai-hulud (mas não tem muito a ver).
How To De-Objectify Women in Comics: A Guide: E, já que falamos de sexismo na cultura popular, é impossível não olhar para os comics, com os seus bem conhecidos enviesamentos na forma como retratam personagens masculinas e femininas. Não tem de ser assim, pode-se manter a coisa mais respeitadora e realista, sem perder o interesse. Tem sido esse o caminho que alguns títulos têm seguido, em parte para captar a atenção das gerações mais novas, cujos valores já não integram o babar-se para cima de desenhos de heroínas em trajes diminutos.
O que é Feito de Si José Garcez?: Perdemos esta semana um dos grandes nomes clássicos da BD portuguesa, conhecido pelas suas bandas desenhadas históricas. A RTP recupera, em jeito de elegia, a sua vida e obra num curto documentário.
Histórias da Tecnologia
Nam June Paik’s Pioneering Vision: How the Artist Predicted an Age of Digital Technology: Uma visão da obra do artista sul-coreano que, nos anos 60, se dedicou a manipular imagem televisiva, a gerar performances, e a construir peças onde o elemento eletrónico era fundamental. Paik tem o seu quê de proto-cyberpunk, um visionário do poder da tecnologia em mediar experiências estéticas e despertar novas formas de perceção. Algo a que hoje estamos habituados, mas há sessenta anos atrás estava ainda a aproximar-se no horizonte. Note-se que o que o artista fazia com ímanes e tubos de raios catódicos faz-se hoje com software, rotineiramente. O texto fala de uma retrospectiva do seu trabalho, e emobra se possa ir ao CCB ver algumas das suas peças na coleção Berardo, será que me atrevo a sonhar com esta retrsopetiva a chegar a Lisboa pelas mãos do MAAT?
Why Japan is emerging as NASA’s most important space partner: O estreitar de relações entre o Japão e os Estados Unidos na exploração espacial tem duas fortes razões, a tecnológica, mas também a geostratégica, face aos avanços chineses.
Slack has filed an antitrust complaint over Microsoft Teams in the EU: Lol. Vou só ali buscar pipocas. Isto diverte-me especialmente porque sendo professor, acompanhei o crescimento exponencial do uso do Teams como ferramenta de e-learning para crianças durante os tempos de suspensão das atividades letivas presenciais. O marketing da microsoft não dorme em serviço, muito menos em pandemia, e soube de muito caso de escola que tinha já plataformas e sistemas de aprendizagem remota (especialmente moodle, que é de fonte aberta e concebido especificamente para educação) a deitarem para o lixo todo o trabalho e experiência previamente acumulados para se renderem ao deslumbre do Teams, essencialmente um clone do Slack integrado no Office 365. Com a completa falta de noção sobre o que são ferramentas de gestão de equipas e plataformas de aprendizagem. Agora a Slack contra-ataca, precisamente porque o que faz é uma plataforma igualzinha ao Teams, só que… sua predecessora. A seguir às browser wars, vamos ter as group management platform wars?
The App of the Summer Is Just a Random-Number Generator: As desculpas que se arranjam para sair de casa. E porque não uma app que gera coordenadas GPS ao acaso, cujos utilizadores garantem que os tem levado em buscas com resultados surpreendentes? Para dar um ar mais underground à coisa, a app tem bugs, e sustenta-se em ideias que oscilam entre o techie e o bizarro. Descobrir recandos aleatórios nas zonas onde vivemos? Parece uma intrigante experiência. Quer dizer, é isso o que faço quando passeio com a minha cadela à volta da zona onde vivo, mas com uma app a orientar-me de forma aleatória a coisa fica com mais pimenta. No entanto, há aqui potencial. Recordam-se da moda do Geocaching, há alguns anos atrás? Esta é uma espécie de versão aleatorizada disso.
OpenAI’s new language generator GPT-3 is shockingly good—and completely mindless: A mais recente iteração do algritmo GPT da OpenAI está a mostrar-se capaz de gerar textos perfeitamente legíveis e lógicos. O potencial disto é aterrador, entre textos gerados por algoritmo à capacidade do GPT de gerar layouts de sites através da sua descrição (para além de gerar texto, também gera código).
Better simulation meshes well for design software (and more): O desenvolvimento destas novas formas de representação 3D está mais pensada para simulação científica, mas de certeza que se irá repercutir nas bases técnicas da modelação e animação 3D.
How and Why Computers Roll Loaded Dice: A matemática é tramada. Se analisarmos a fundo o aleatório, começamos a encontrar padrões complexos. Aliás, toda a teoria do caos baseia-se nisso: nos padrões regulares que emergem em sistemas aparentemente aleatórios. Não poderemos ter aleatoriedade total, mas podemos resignar-nos às suas aproximações.
Desarrollan un robot que se desplaza “por sentido común”: reconoce los objetos para ubicarse en el espacio: Programar robots para uma capacidade mais flexível de reconhecimento espacial, categorizando por associação e não por análise exaustiva de dados.
De Madrid a Gandía y de Barcelona a Palafrugell: el INE explica cómo nos movemos en España a través del rastreo de los móviles: Porque é que estou a salientar este estudo espanhol? Não estou particularmente interessado nas deslocações de nuestros vecinos, mas sim na forma com os dados foram obtidos, analisado os dados de localização de milhões de telemóveis, fornecidos pelas operadoras. E sim, também senti um arrepio na espinha pelas implicações disto na privacidade e capacidade de rastreamento, mesmo sabendo que os dados são enviados anonimizados às instituições.
The Robot Revolution Was Televised: Our All-Time Favorite Boston Dynamics Robot Videos: Para além de estarem no fio cortante da vanguarda do desenvolvimento de tecnologia robótica, a Boston Dynamics também sabe documentar o que faz. Esta série de vídeos mostra alguns dos mais influentes projetos desta empresa de investigação.
DARPA Awards Contracts for New X-Plane Program Based on Active Flow Control: Vale sempre a pena seguir a DARPA para perceber que tecnologia estará na vanguarda daqui a alguns anos. Nesta call, designaram parceiros para investigar técncias de controlo de voo através de fluxo ativo – usando a aerodinâmica e a propulsão como formas de controlar o voo de aeronaves. E foram específicos, tecnologias já conhecidas, como a vetorização de impulso, ficaram de fora deste projeto.
Modernidade
andieeebear:Joseph Szabo, a high school teacher, decided to take photos of his students in order to…: Um projeto documental interessante, que na prática retrata uma geração específica. E impossível de fazer hoje em dia – alguma manchete que cruze professores e fotografia, hoje, certamente terá um lado mais litigioso.
What if the Trinity test had failed?: Recordando o recente aniversário do primeiro teste atómico, um ensaio especulativo. E se este teste tivesse falhado, ou dado resultados abaixo das expectativas de cientistas, militares e políticos?
A Bomb in the Desert: Recordar o nascimento da era atómica, com a primeira detonação nuclear da história, com uma visita ao primeiro ground zero no deserto do Arizona.
Covid-19 Risk Chart: À procura de um gráfico fácil de entender para análise de risco de exposição à Covid-19? Este é dos mais… criativos, digamos.
How Capitalism Drives Cancel Culture: Quando as vítimas de abusos começaram a recorrer às redes sociais para denunciar práticas sexistas nas indústrias criativas, despoletaram um verdadeiro movimento. Que, se teve o benefício de castigar algumas pessoas que durante décadas abusaram do seu poder, gerou no seu rastro uma cultura de julgamento por redes sociais. Cultura essa a que empresas e instituições depressa aderiram, da pior forma possível – castigando duramente aqueles que são vistos como ofensivos por qualquer que seja a onda de revolta do momento. Com isso, mantém uma fachada de progressismo, mas não fazem nada que transforme a sua cultura organizativa, que muitas vezes está na raiz das injustiças denunciadas pelo vociferar nas redes.
US Air Force threatens to nationalize aircraft manufacturing: É uma reacção compreensível. A consolidação industrial nas indústrias de alta tecnologia que alimentam o armamento americano de ponta trouxe menor diversidade tecnológica, custos mais elevados e mais problemas de implementação de programas.
M-346 Light Fighter Family of Aircraft (LFFA) Performs First Flight in Complete Configuration: Um desenvolvimento das aeronaves de treino avançado criado pela tecnologia da italiana Leonardo.
The Oxford covid-19 vaccine candidate has produced promising early trial results: Esta notícia está a aparecer demasiadas vezes nos feeds para ser apenas wishful thinking. Se bem que, por muita esperança que esta potencial vacina nos dê, de finalmente começar a ultrapassar a pandemia e a crise provocada pela Covid-19, é de sublinhar que muitos obstáculos ainda restam por ultrapassar: fiabilidade, segurança, potenciais efeitos secundários, e capacidade de produção com a tecnologia farmacêutica.
Why Bigfoot and the ‘Abominable Snowman’ Loom Large in the Human Imagination: Analisando as histórias sobre criaturas crípticas para lá do sensacionalismo, emerge um padrão – mitos sobre homens selvagens nos locais remotos do mundo.
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Tecnologias e Comunidades: Makers e Educação no Combate à Pandemia